GT 13 - Neocolonialismo, sujeitos narradores e identidades



“Diversidade e Diálogo”, tema do IX Encontro Regional Sudeste de História Oral, estimula-nos à proposição de um GT no qual os paradoxos da modernidade contemporânea são tomados como objeto de estudo mediante os movimentos conhecidos como a “crítica pós-colonial” ou o “neocolonialismo”.

 

Não se quer postular uma artificial linha divisória entre um mundo colonial e outro pós-colonial, mas examinar as reminiscências, persistências e
atualizações das assimetrias relativas à “raça”, etnia, gênero, religião, nacionalidade, ideologias, ética e moralidades, dentre outras, que indicam o
quanto o “colonialismo” se renova sob novas roupagens.

 

O neocolonialismo, pois, exibe a falência do projeto da modernidade ao expor sua outra face: a colonialidade, isto é, a repressão de quaisquer outras formas de convívio humano e de convívio entre os humanos e seu ambiente que não seja aquele prescrito como universalmente válido que passa a se opor ao “diferente”, entendido, neste caso, como “inferior”.

 

A crítica pós-colonial tem interessado a diversos pesquisadores em suas investigações acerca das experiências de subalternidade e de dominação
contemporâneas nas quais se passa a “escutar” especialmente a fala do “subalterno”, em seu poder de dar significação do mundo e a si próprio. Neste intento, a História Oral mantém-se como um importante instrumental metodológico, a exemplo das analises que envolvem os chamados “estudos culturais” (Stuart Hall) bem como as pesquisas que se dão sob o foco do “reconhecimento” (Axel Honneth).

 

Como diz Verena Alberti, as historias de vida sempre participam de processo de construção de identidade e por este são entrecruzadas. Nesse sentido, as narrativas produzidas através da Historia Oral refletem a presença de uma duplicidade temporal inerente à fala do entrevistado que constroi
representações sobre o tempo vivido e sobre a sociedade na qual se insere a experiência individual, sem perder, contudo, o olhar que o presente direciona. A função do entrevistador está, por conseguinte, vinculada à compreensão dos processo interativos da memória, do mito, da consciência, enfim, do “lugar” onde o indivíduo produz sentido sobre sua relação com a sociedade, com as instituições de cultura e com a História.

 

Paul Ricoeur recorda-nos que os acontecimentos do passado permanecem abertos a novas interpretações, como também se dá uma reviravolta nos nossos projetos, em função das nossas lembranças, por um notável efeito de acerto de contas. Nessa perspectiva, as pesquisas trazidas ao GT hão de problematizar o potencial redentor da narrativa que transmuta ou não o subalterno em “sujeito-narrador”, na superação do esquecimento e na verbalização da dor. Atenta-se, sobretudo, à força da narrativa em seu potencial de reagregação do passado desmembrado, a fim de se compreender o
trauma do presente.

 

Nos esforços interdisciplinares entre a História, as Ciências Sociais, a Literatura e a Crítica Literária, buscam-se perceber as conexões entre passado (memória), presente (ação) e futuro (projeção) na constituição quer das individualidades quer das coletividades.

 

Assim sendo, o GT acolherá trabalhos que, na atenção ao enfrentamento das tensões do neocolonialismo e do processo de construção de identidades
apontem, dentre outros, para os conflitos étnicos, para a “raça” como “lugar de onde se fala”; para o debate sobre a identidade nacional e seu hibridismo; para as questões regionalistas em tempos de globalização; para a intensificação dos fluxos migratórios ontem e hoje e a formação (destruição/reconstrução) das sociedades multiculturais; para os movimentos sociais e suas demandas de “cidadania”; para os impasses entre Estado étnico e Estado cívico mediante a captura da “voz” daquele(a) costumeiramente emudecido.


 

 

Coordenação


Adelia Maria Miglievich Ribeiro. Mestre em Sociologia (IUPERJ) e Doutora em Ciências Humanas – Sociologia (PPGSA-IFCS/UFRJ); Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES; Professora Permanente nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PGCS) e Pós-Graduação em Letras – Estudos Literários (PPGL) da UFES; Membro dos Conselhos Editoriais da “Agenda Social. Revista do PGCS- UENF”, “Sinais. Revista de Estudos Indiciários – UFES”, “REALIS. Revista de Estudos Antiutilitaristas e Pós-Coloniais – UFPE”;
Pesquisadora-Bolsista IPEA/CAPES; Dentre seus projetos de pesquisa em andamento, cabe destacar “Modernidade- Colonialidade, Nação e Autonomia em Darcy Ribeiro: fundamentos e propostas de desenvolvimento” (IPEA/CAPES); “Aspectos da construção do pensamento social nas
relações Brasil-África” (CNPq). Algumas publicações de 2010 relacionadas à temática do Simpósio: “Narrativa e reconciliação em "O povo brasileiro" de Darcy Ribeiro” in Naveg@merica (Murcia), v. 5; “Reconhecimento em Axel Honneth: os trabalhadores offshore na Bacia de Campos Brasil. Confluenze. Rivista di Studi Iberoamericani (Bologna) v. 2.

 

Luiz Fernando Beneduzi. Mestre e Doutor em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2004), com estágio doutoral junto à Università degli Studi di Bologna (2002) e Pós-Doutorado em História junto ao “Grupo Mujeres”, Università degli Studi di Torino (2005). Atualmente, Professor Adjunto de História da América Latina Brasil junto à Università Ca' Foscari di Venezia, Professor Colaborador junto ao Mestrado em Relações Internacionais da Johns Hopkins University (Campus de Bolonha) e pesquisador visitante junto ao Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Dentre seus projetos de pesquisa em desenvolvimento, cabe destacar “Retorno às raízes? Gênero, identidade e integração na imigração brasileira na Itália contemporânea” (MCT/CNPq/SPM-PR/MDA) e “A velha/nova terra da cuccagna: um novo Brasil (re)criado no exterior (CNPq) Algumas publicações de 2010 relacionadas à temática do Simpósio: “A exclusão não está longe daqui: a natureza como potencial operador biopolítico em algumas etapas da formação do Brasil” (Com Roberto Vecchi) em Educação (PUCRS. Impresso), v. 33; “Por um braqueamento mais rápido: identidade e racismo nas narrativas do álbum do cinqüentenário da imigração italiana no sul do Brasil (Ahead of Prin)”, em Antíteses, v 4, n 7.


 

 

Bibliografia


  1. ALBERTI, Verena. Ouvir Contar: textos em História Oral. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

  2. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.

  3. CARTROGA, Fernando. “Memória e História”. In: PESAVENTO, Sandra (org.). Fronteiras do Milênio. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2001. (pp. 43- 70)

  4. HALL, Stuart. Da Diáspora. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.

  5. HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. A gramática dos conflitos sociais. São Paulo, Editora 34, 2003.

  6. PORTELLI, Alessandro. Storie Orali. Racconto, immigrazione, dialogo. Donzelli Editore, 2007.

  7. RICOEUR, Paul. La memoria, la storia, l'oblio. Milano, Raffaello Cortina Editore, 2003.

  8. SAYAD, Abdelmalek. A Imigração ou os paradoxos da alteridade. Tradução de Cristina Murachco. São Paulo: EDUSP, 1998.

  9. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

  10. THOMSON, Alistair. “Histórias (co) movedoras: História Oral e estudos de migração”. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 22, nº 44, 2002. (pp. 341-364)