Depoimento de meninas que estudam na área
Quer saber um pouquinho mais como são as áreas que englobam a computação? A gente pediu para algumas meninas darem um depoimento de como estão sendo suas experiências 🙂
Raissa Pimentel – ITA
Sou Raíssa Pimentel, tenho 19 anos e estudo Engenharia da Computação no ITA. Durante o curso fundamental do ITA (dois primeiros anos da graduação), tive algumas matérias como introdução à programação e estruturas de dados, que foram meus primeiros contatos com programação e a área de computação. Desde que comecei a programar, percebi que gostava muito dessa área, que envolve muita lógica, raciocínio, dedicação e esforço para resolver problemas. Além disso, percebi que essa engenharia apresenta diversas aplicações no mercado de trabalho, seja em indústria, startups, mercado financeiro e consultorias. Devido à essa afinidade e à diversidade de aplicações de Engenharia da Computação, escolhi esse curso. Por enquanto ainda estou no quinto período, o primeiro realmente voltado para a Engenharia da Computação em si, pois acabei de sair do curso fundamental. Então, ainda estou tendo um contato inicial com as primeiras matérias aplicadas em computação, e a experiência que estou tendo é muito positiva. Temos matérias tanto voltadas para a parte de desenvolvimento de software, como estruturas de dados, programação orientada a objetos, como para a parte de desenvolvimento de hardware, como circuitos digitais e controle de sistemas. Todas elas são bastante desafiadoras e nos ensinam habilidades que serão requeridas de um engenheiro de computação no mercado de trabalho. Paralelamente, sou bolsista de Iniciação Científica em química computacional, desenvolvendo, por meio de um ambiente Linux, uma ferramenta de cálculo de distâncias e ângulos diedros de ligações em macromoléculas. Também atuo organizando eventos para o projeto Women in STEM2D, parceria do ITA com a Johnson&Johnson, incentivando o desenvolvimento de liderança, soft skills e autoconhecimento para as alunas do ITA. A maior dificuldade que enfrento no meu dia a dia é tentar conciliar todas essas atividades de forma a sempre estar bem tanto academicamente como psicologicamente. Contudo, como faço algo que gosto e que escolhi por livre vontade, o sentimento de estar fazendo algo que me auxilia a crescer tanto profissionalmente como academicamente compensa todas essas dificuldades.
Débora D’Angelo – USP (IME)
Sou Débora D’Angelo, tenho 19 anos e curso Ciência da Computação na USP. Escolhi fazer o Instituto Federal por influência do meu pai e acabei escolhendo o curso de Informática porque me pareceu o menos chato. Eventualmente, acabei gostando da área de programação e acabei sendo mais participativa e presente nas aulas, demonstrando mais interesse na matéria. Mas num primeiro momento fiquei confusa sobre qual curso prestar, mas decidi por computação pois já havia cursado Informática e gostava daquilo. E vendo a grade curricular descobri que ela possuía diversos dos meus interesses. Através dos projetos de extensão da faculdade, como o CodeLab e uma maratona de programação, o Maratonusp, me mantenho interessada o curso, além dele também estar de acordo com assuntos de meu interesse. Atualmente, estou no primeiro semestre, aprendo sobre a teoria da computação e temas de programação, sendo boa parte das matérias de matemática agora no início. Uma dificuldade que sinto é a distribuição desigual de gênero em minha sala, pois estava acostumada com uma distribuição mais equilibrada. Outra provação que percebo sendo uma mulher cursando Ciência da Computação é que alguns de meus colegas, do sexo masculino, me subestimam e ficam me explicando a matéria toda hora, achando que não sei o que estou fazendo. Além disso, alguns fazem generalizações sobre gênero e determinados estereótipos. Para contornar tal situação, expliquei uma vez o porquê disso ser desagradável, fizemos algumas pesquisas e uma das pessoas que agiu de tal forma entendeu e até agora parou de ter essa atitude. Tirando tais exceções, os demais colegas são tranquilos. Inclusive um de meus veteranos conversou com a sala pedindo para que os meninos tomassem cuidado para não tornar o ambiente que, já é predominantemente masculino, fechado pras mulheres. Outro ponto positivo é a existência de coletivos e organizações do meu instituto a quem posso recorrer em situações desconfortáveis. Quanto ao mercado de trabalho eu só tenho experiência de dois processos seletivos. Um na Iteris e outro na IBM. EM ambos os processos percebi que a maioria dos entrevistados e dos contratados era composta do sexo masculino. Entretanto, na IBM reconheci, à primeira vista, uma preocupação do ambiente de trabalho ser igualmente positivo para mulheres.
Bruna Azevedo Garcia – USP (São Carlos)
Sou Bruna Garcia tenho 17 anos e curso Ciência da Computação na Usp – São Carlos. Escolhi cursar computação por ter facilidade com as matérias do curso e querer trabalhar com jogos sem ficar presa à isso apenas, além do curso oferecer várias oportunidades. Minhas motivações consistem na predisposição que tenho em aprender as matérias e na possibilidade de um bom retorno financeiro. A área de computação superou as minhas expectativas, as pessoas são abertas e divertidas, todos se ajudam, os professores são gentis apesar das matérias serem um pouco difíceis. Atualmente, estou no primeiro semestre e os conteúdos de cálculo e geometria analítica são mais trabalhosas entretanto as considero importantes para programar de forma eficiente. Além disso, tenho matérias de Eletrônica que permitem entender melhor o funcionamento de um computador, sendo algumas em laboratório que proporcionam experiências interessantes. A grade também contém conteúdos de programação e lógica digital, na qual, montamos os circuitos que serão utilizados nas placas do hardware (parte física do computador). Uma dificuldade que ocorreu foi o fato de perder quase um mês de aula por estar na lista de espera, pois algumas matérias são difíceis e a quantidade acumulada é um pouco numeroso. Mas tive a ajuda de colegas e professores, o que tornou o fardo mais leve. No quesito de ser mulher na computação, sinto que tive sorte em estar em uma turma que não subestimam as mulheres e realmente dão apoio para elas. Parece que é uma geração com uma mente mais aberta sobre o assunto e por isso não senti nenhuma dificuldade na questão do gênero.
Hellen Rosa – USP (São Carlos)
Sou Hellen Rosa tenho 17 anos e curso Ciência da Computação na Usp – São Carlos. Escolhi cursar computação porque queria um curso na área de exatas e também por ser fã de tecnologia, em como ela avança e serve de auxílio para diversas áreas, como a medicina. Além disso, queria escolher um curso que pudesse agregar bastante ao mundo e, por ele ser um ramo vasto que resolve problemas utilizando Computação, me interessei por essa formação. Minha motivação para escolher tal carreira é que através dela eu possa ajudar a sociedade através da tecnologia. Até agora estou amando o curso, ele é mais complexo do que eu imaginava, apesar disso, nesse pouco tempo cursando-o, descobri muito mais sobre a área do que eu sabia. Ainda não sei dizer se corresponde às minhas expectativas, o que posso afirmar é que está mais árduo do que imaginava mas considero esse fato como sendo algo positivo. Isso se deve ao fato de que, por esse motivo, eu acabo me cobrando mais e tendo melhores resultados no meu desempenho acadêmico. Atualmente, estou cursando o primeiro semestre e tenho diversas matérias relacionadas à matemática, como cálculo e geometria analítica. Além disso, tenho aquelas mais voltadas para o âmbito digital: eletrônica e lógica digitais. Não deixando de lado a área de programação, curso Introdução à Ciência da Computação que é uma matéria com um certo nível de dificuldade, porém a sensação de entendê-la e saber o que se está fazendo, faz com que qualquer dificuldade seja superada, ainda mais se for dentro do âmbito de programação, pois a sensação disso é ainda mais maravilhosa. A única diferença que senti até agora foi a falta de mulheres no curso, mas, até agora, não vi nenhum desmerecimento das mulheres. Um ponto que posso citar, entretanto, é o fato de que o curso é mais voltado para o público masculino e isso ocorre no geral, pois meu campus possui uma concentração maior de cursos da área de exatas com uma maioria de estudantes do sexo masculino. Apesar disso, as mulheres fazem grupos e acabam sendo mais unidas e participativas. Algo que ouvi sobre o âmbito profissional, e sobre a qual concordo, foi que existe uma certa discriminação com as mulheres, mesmo não sendo grande, ela existe. Além disso, ouvi também que o mercado está se tornando mais flexível e aceitando melhor o público feminino, pois as vagas disponíveis para elas aumentou. O único ponto que ainda é polêmico é a diferença existente no salário de uma mulher e de um homem, mas acredito que esse fato não se restrinja apenas à computação.
Renata Ribeiro – UFBA
Renata, 21 anos, Ciência da Computação. Eu escolhi o curso pq na minha primeira graduação, o Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia tive um componente curricular sobre eletrônica digital, banco de dados e introdução a lógica de programação que me possibilitou um contato inicial com a área. Depois do componente fiz um curso inicial de programação numa turma exclusiva para mulheres. Posteriormente ensaiei um ingresso na área de Geofísica pelo contato com programação mas acabei ficando com ciência da computação mesmo. O que me motiva a continuar no curso é a possibilidade de retorno pra sociedade pela democratização do acesso a ciência e tecnologia. Acredito que a ciência e tecnologia sejam motores propulsores para o avanço da sociedade e que eu possa auxiliar nesse avanço promovendo a popularização de conceitos destes. Minha experiência está sendo benéfica até então. O curso é integral e isso dificulta manter um emprego e estudar. Além disso as matérias teóricas me exigem um esforço pessoal muito grande. Apesar disso tenho conseguido ir bem. Minhas dificuldades, além do teor teórico do curso, como já mencionado, são a desconfiança dos colegas e a dificuldade em me manter estudando e com um emprego de meio período devido aos créditos da Universidade. A desconfiança dos colegas, por eu ser uma mulher, é um desconforto. Por vezes me sinto rebaixada ou incapacitada em algum nível por ser mulher. Não acredito que isso tenha a visibilidade requerida. Em ciência da computação é comum acreditarem que qualquer um pode obter sucesso desde que estude para tal. Na prática sabemos que essa afirmação se mostra inverossímil.
Carla Vieira – USP (EACH)
Bem, eu sou a Carla, 21 anos e graduanda de Sistemas de Informação na USP Leste, trabalho transformando dados em conhecimento e atuo como Evangelista na Womakerscode, buscando empoderar mais mulheres na tecnologia e na Perifacode levando tecnologia para dentro das periferias! Quando eu era criança (por volta de 9 anos), foi inaugurada a linha Safira na Zona Leste; então minha mãe decidiu me levar para conhecer a estação de trem e a USP Leste (EACH). Eu me lembro bem que ela disse “é aqui que você vai estudar quando crescer, filha” e confesso que isso ficou realmente na minha cabeça. No Ensino Médio, quando decidi seguir na carreira de computação e descobri que existia o curso de Sistemas de Informação na EACH, a 10 minutos de casa, eu nem hesitei – foi minha 1ª escolha. Ao longo de 4 anos de EACH, eu só posso dizer que ela me transformou em muitos níveis. Tive a oportunidade de dar aula de desenvolvimento web para alunos da EACH na Incubadora durante 2 semestres, tive contato com pessoas diferentes, evoluí meu pensamento crítico e conheci professores que tem me apoiado nessa jornada. Não vou dizer que tem sido fácil, o primeiro ano foi muito difícil já que eu não sabia nem abrir o terminal (diferente de grande parte da turma) e acabei pegando DP em Estrutura de Dados (nunca chorei tanto); esses momentos fizeram eu me sentir uma impostora ali, uma sonhadora, uma menina perdida, mas eu nem imaginava o que essa menina iria conquistar nos próximos anos…Hoje, depois de muitas crises de ansiedade e choro, posso dizer que estou muito feliz com o caminho que percorri até o momento. Já estou trabalhando em uma grande empresa, como eu sempre sonhei; cursando as aulas do mestrado e participando ativamente da comunidade de desenvolvimento como palestrante, organizadora e facilitadora. O contato com comunidades de tecnologia com certeza foi um ponto de transformação na minha carreira e me trouxe diversas oportunidades que a faculdade sozinha nunca vai te dar: o famoso networking com profissionais do mercado; a oportunidade de fazer seu marketing pessoal e a amizade com outras mulheres da área. A área da computação, assim como muitas outras, apresenta diversos obstáculos para nós mulheres desde a faculdade até o mercado. O que eu aprendi até agora é que somente juntas conseguimos passar por cada um deles e dar a volta por cima.
Aléxia Scheffer – USP (EACH)
Sistemas de Informação se encaixou perfeitamente nos meus objetivos de carreira profissional e acadêmica por conquistar o melhor dos mundos da tecnologia e da gestão. O mercado na área tecnológica é extremamente dinâmico, enriquecedor e amplo e as escolhas para a minha carreira são muitas! Como se não bastasse, o retorno pessoal e financeiro é muito satisfatório! Estou no curso há um tempo razoalmente curto, entretanto, não foi impedimento para abraçar oportunidades que me acrescentam diariamente como mulher ou profissional: participo de vários bootcamps, oficinas, hackathons e cursos extracurriculares. As atividades extras são um diferencial para minha formação e em conjunto com a graduação meu desenvolvimento é imenso. Um grande ponto a ser destacado é o estímulo à iniciativa e à inovação, pois é um requisito essencial para a área de gestão e de tecnologia. Para mim, o maior desafio é conseguir aproveitar todas as oportunidades, o ambiente dinâmico e acompanhar o ritmo de aprendizado constante, que sempre nos lembra que temos muito a aprender. Para isso, procuro me manter organizada com lembretes e agenda frequentemente. Tenho muita confiança de que, futuramente, terei a profissão dos meus sonhos e poderei realizar uma série de desejos que guardo desde criança. Tudo isso é proporcionado pela USP. 🙂
Milena – IME (RJ)
Meu nome é Milena, eu tenho 21 anos, sou de Curitiba e curso engenharia da computação no IME (Instituto Militar de Engenharia, no Rio de Janeiro). Eu comecei meu caminho para a engenharia quando tinha 16 anos, inicialmente eu queria estudar engenharia química e fiz 3 anos de cursinho para passar no IME. Depois que entrei na faculdade, percebi que química não era a área que queria seguir e no meu 3º ano acabei escolhendo engenharia da computação (aqui no IME nós escolhemos nossa especialidade no 3º ano) pelo meu gosto por programação.Eu ainda tinha dúvidas quando fiz essa escolha, mas agora que estou nesse curso, eu me sinto muito feliz, pois percebi que é o que eu gosto. Eu estudo como os computadores funcionam, como algoritmos são estruturados e aprendo linguagens de programação e suas aplicações, é tudo muito interessante e realmente legal. Muitas vezes, tanto antes do IME quanto depois de ter passado, eu sentia que não ia conseguir passar e ir bem nas matérias, mas olhando para trás e vendo tudo o que conquistei e cresci desde 2014, percebo que o esforço e a dedicação foram de suma importância, mas ainda mais importante é saber medir os limites, se permitir apoiar nas pessoas que torcem para seu bem e também cuidar da saúde mental. Muitas vezes encontramos desafios que nos estressam e parecem levar o melhor de nós, mas é preciso ter calma, controle e, acima de tudo, fé em si mesma para conseguir ter sucesso nos objetivos.